15 de maio de 2016

Colar de Pérolas, da escritora Maria Montillarez

 Prefácio do livro Colar de Pérolas:


Tenho com Maria Montillarez afinidade que vai além do nosso bem-querer às belas letras, pois, como ela, fui também alfabetizado em casa, aos cinco anos, por minha mãe.

Seus primeiros passos no universo literário foram trilhados no campo fértil do Cordel, lidos pela mãe em voz alta e, depois, repetidos pela menininha aos vizinhos e amigos, sem omitir uma palavra sequer, nas noites quentes de Mauriti, Ceará.
Aos seis anos, muda-se com os pais para Brasília. Lá reside e estuda, vindo a casar-se.
Vai morar em Minas Gerais e, em Uberlândia, participa num concurso de redação, promovido pela Biblioteca Pública, ganhando Medalha de Honra ao Mérito. Sente-se, então, encorajada a trilhar novos e promissores caminhos.
Porém, somente alguns anos mais tarde é que se aventura a encarar o grande desafio de escrever seu primeiro romance, este. Extenso e intensamente trabalhado como é toda obra artística de artesanato intelectual. Aqui passou longe de ser maçante, porque alimenta saborosamente o leitor a cada nova página; a cada capítulo, um clímax.
 Esta obra é resultado de equilíbrio de ideias e de intensa organização lógica, cronologicamente elaborada, mas, nem por isso, linear. A linearidade não pode ser esperada de Maria Montillarez. Para ela, cada palavra dirigida ao público exigente é responsabilidade de altíssimo grau. Não foi escrevê-la e lapidá-la o que Maria Montillarez denominou loucura; foi publicá-la. Tornar públicas suas criações intelectuais foi o que lhe pareceu loucura e sobre o que ela declarou: "Escrever, eu escrevi depressa, mas só ensandeci o bastante para publicar este romance em 2006".
Ela nos reservou esta joia como se reserva o vinho de boa safra: para ocasiões especiais, como aquela em que ela se sentiu "ensandecida o bastante".
Esse espetáculo de insanidade de Maria Montillarez requer meu pedido de agradecimento como seu leitor, e deixo meu conselho: enlouqueça mais vezes; você pode.
A escritora de Colar de Pérolas – Maria Montillarez – é uma guerreira de boa cepa, pois só uma walkíria dos trópicos (posto que Maria tem a pele cor-de-jambo das Iracemas, de José de Alencar) poderia encontrar tempo e disposição entre os afazeres de empresária, esposa e mãe, para se dedicar ao mister da Literatura.
Neste seu romance, a autora, por intermédio de suas personagens principais Lucinda da Consolação de Gusmão e Ligiana Cortês García, investe contra determinados valores da sociedade, questionáveis sob sua ótica, e lhes declara guerra.
Durante a trajetória de Lucinda e Lígia, a história vai se adensando; se entrelaçando, na medida em que outros personagens se incorporam, compondo com suas personalidades, as joias que irão formar o Colar de Pérolas (humanas) com o fabuloso Pingente – título honorífico dado a Lígia por Lucinda.
Colar de Pérolas é mesmo uma brincadeira séria, eu diria. Digo mais: este livro que seria único: Colar de Pérolas, narrado por Lucinda, logo se tornou dois, com a produção de O Pingente, narrado por Lígia.
Para conforto do leitor, a autora Maria Montillarez fez outra proeza com os dois livros: os fundiu. Melhor explicando: a 1ª edição de Colar de Pérolas foi lançada em 2006; neste ano Maria Montillarez lança a 2ª edição de Colar de Pérolas, pois segundo declarou “Lígia é como é se não fosse apenas uma personagem literária; tem vontade própria, e quis se exprimir tal qual a amiga Lucinda. Dei-lhe o direito à réplica, escrevendo O Pingente, com narração de Lígia, logo, 1ª pessoa, como no Colar de Pérolas.”
Ao penetrar o labirinto das paixões que vão envolvendo a própria Lucinda, bem como aos seus companheiros de jornada, a irmã Conceição, Klaus K, Maria Lis, Sílvia, Mauro, Vincent, Andrey, Roberto Eduardo, demais transeuntes e sua Pérola-mor, a colariana (amiga) Ligiana, de quem Lucinda suprime o nome para "somente Lígia", é trazido à tona e desvendado aos leitores as nuanças e diferenças das personalidades que enobrecem e/ou amesquinham o ser humano, incluindo aí as das protagonistas.
Neste laborioso exercício, Maria Montillarez se firma como incansável escritora que encontrará bem cedo seu lugar de destaque junto à constelação de autores brasilienses.

(Yves Hublet é escritor e teatrólogo)


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