Prefácio do livro Colar de Pérolas:
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Tenho com Maria
Montillarez afinidade que vai além do nosso bem-querer às belas letras, pois,
como ela, fui também alfabetizado em casa, aos cinco anos, por minha mãe.
Seus primeiros
passos no universo literário foram trilhados no campo fértil do Cordel, lidos
pela mãe em voz alta e, depois, repetidos pela menininha aos vizinhos e amigos,
sem omitir uma palavra sequer, nas noites quentes de Mauriti, Ceará.
Aos seis anos,
muda-se com os pais para Brasília. Lá reside e estuda, vindo a casar-se.
Vai morar em
Minas Gerais e, em Uberlândia, participa num concurso de redação, promovido
pela Biblioteca Pública, ganhando Medalha de Honra ao Mérito. Sente-se, então,
encorajada a trilhar novos e promissores caminhos.
Porém, somente
alguns anos mais tarde é que se aventura a encarar o grande desafio de escrever
seu primeiro romance, este. Extenso e intensamente trabalhado como é toda obra
artística de artesanato intelectual. Aqui passou longe de ser maçante, porque
alimenta saborosamente o leitor a cada nova página; a cada capítulo, um clímax.
Esta obra é resultado de equilíbrio de ideias
e de intensa organização lógica, cronologicamente elaborada, mas, nem por isso,
linear. A linearidade não pode ser esperada de Maria Montillarez. Para ela,
cada palavra dirigida ao público exigente é responsabilidade de altíssimo grau.
Não foi escrevê-la e lapidá-la o que Maria Montillarez denominou loucura; foi
publicá-la. Tornar públicas suas criações intelectuais foi o que lhe pareceu
loucura e sobre o que ela declarou: "Escrever, eu escrevi depressa, mas só
ensandeci o bastante para publicar este romance em 2006".
Ela nos
reservou esta joia como se reserva o vinho de boa safra: para ocasiões
especiais, como aquela em que ela se sentiu "ensandecida o bastante".
Esse espetáculo
de insanidade de Maria Montillarez requer meu pedido de agradecimento como seu
leitor, e deixo meu conselho: enlouqueça mais vezes; você pode.
A escritora de
Colar de Pérolas – Maria Montillarez – é uma guerreira de boa cepa, pois só uma
walkíria dos trópicos (posto que Maria tem a pele cor-de-jambo das Iracemas, de
José de Alencar) poderia encontrar tempo e disposição entre os afazeres de
empresária, esposa e mãe, para se dedicar ao mister da Literatura.
Neste seu
romance, a autora, por intermédio de suas personagens principais Lucinda da
Consolação de Gusmão e Ligiana Cortês García, investe contra determinados
valores da sociedade, questionáveis sob sua ótica, e lhes declara guerra.
Durante a
trajetória de Lucinda e Lígia, a história vai se adensando; se entrelaçando, na
medida em que outros personagens se incorporam, compondo com suas
personalidades, as joias que irão formar o Colar de Pérolas (humanas) com o
fabuloso Pingente – título honorífico
dado a Lígia por Lucinda.
Colar de
Pérolas é mesmo uma brincadeira séria, eu diria. Digo mais: este livro que
seria único: Colar de Pérolas, narrado por Lucinda, logo se tornou dois, com a
produção de O Pingente, narrado por
Lígia.
Para conforto
do leitor, a autora Maria Montillarez fez outra proeza com os dois livros: os
fundiu. Melhor explicando: a 1ª edição de Colar de Pérolas foi lançada em 2006;
neste ano Maria Montillarez lança a 2ª edição de Colar de Pérolas, pois segundo
declarou “Lígia é como é se não fosse apenas uma personagem literária; tem
vontade própria, e quis se exprimir tal qual a amiga Lucinda. Dei-lhe o direito
à réplica, escrevendo O Pingente, com
narração de Lígia, logo, 1ª pessoa, como no Colar
de Pérolas.”
Ao penetrar o
labirinto das paixões que vão envolvendo a própria Lucinda, bem como aos seus
companheiros de jornada, a irmã Conceição, Klaus K, Maria Lis, Sílvia, Mauro,
Vincent, Andrey, Roberto Eduardo, demais transeuntes e sua Pérola-mor, a
colariana (amiga) Ligiana, de quem Lucinda suprime o nome para "somente
Lígia", é trazido à tona e desvendado aos leitores as nuanças e diferenças
das personalidades que enobrecem e/ou amesquinham o ser humano, incluindo aí as
das protagonistas.
Neste laborioso
exercício, Maria Montillarez se firma como incansável escritora que encontrará
bem cedo seu lugar de destaque junto à constelação de autores brasilienses.
(Yves Hublet é
escritor e teatrólogo)
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