18 de maio de 2016

Meu caderno não mente — O diário de Heloísa, da escritora Maria Montillarez

Prefácio do livro: Meu caderno não mente - O diário de Heloísa, da escritora Maria Montillarez

Meu caderno não mente — O diário de Heloísa é uma das recentes publicações destinadas a se tornar um clássico de nossa literatura. Mesmo que a afirmação possa parecer pretensiosa, não penso
em outra afirmação para expressar a minha visão de futuro da obra. O livro não foi apenas escrito, foi pensado e repensado nos seus mínimos detalhes. Cada parte da história tem profunda e cautelosa racionalidade, que é característica das obras da autora, uma característica que se aprimora dentro de um elegante estilo romanesco.
A história é fruto de um diário imaginário escrito por três mãos: a de Heloísa, a de Léner e a de Nicole. A estrutura da obra respeita a ideia de um diário. A riqueza dos detalhes, as longas descrições, a forma íntima das narrativas, os complementos posteriores das narrativas, e a sensação que temos na leitura de uma história que não se desenvolve, mostram a estrutura de um diário retocado, no qual se tenta justificar as atitudes de um drama amoroso vivido por cinco personagens: Júlio Alcântara, Heloísa, Geraldo, Léner e Nicole. Os personagens, apesar de terem seus sentimentos bem direcionados, têm ao longo da trama um entrelaçamento dos seus sentimentos, resultando em um complexo relacionamento amoroso.
No contato com a história, o leitor não deve desprezar as minúcias das narrativas, pois são momentos fortes da obra e instrumentos usados pela autora para nos fornecer informações precisas sobre os diálogos, às vezes truncados, dos vários personagens que compõem o enredo da trama. É interessante observar que Heloísa sempre se refere à Nicole em propositais substantivos diminutivos, cujos sufixos são usados de jeito a revelar seu desprezo por Nicole (-inha, -zinha...), por exemplo, quando ela classifica Nicole de batutazinha do demo, tudo para convencer, talvez, não somente a Léner, da insignificância que Nicole lhe parece ter, mas também aos leitores dele, de que a condição de Nicole no mundo deveria estar sujeita a mais baixa das posições, e uma das grandes frustrações de Heloísa é justamente a de ver Nicole, hierarquicamente acima dela, como sua patroa a “dona patroinha”.
A criatividade de construção dos personagens é uma das grandes particularidades da obra. O leitor precisa mergulhar no ideário da autora para perceber o direcionamento que ela quer dar à sua trama. Na obra, nenhum personagem aparece por acaso; de uma forma ou de outra todos os personagens contribuem para a coluna mestra da obra, uma grande prova da visão geral e particular que a autora tem do seu trabalho.
Heloísa é uma mulher comum, um coração aberto que se deixou fisgar por um amor platônico e proibido. O descuido de um distraído coração coloca Heloísa como a principal preocupação do enredo. Heloísa não é uma pessoa má, é simplesmente uma mulher apaixonada, e como todo amor não correspondido, perde o direcionamento de ação, realizando infinitas ações que a colocam como vilã de uma história de amor profundo.
O enredo tem como protagonista a personagem Nicole, forte, marcante, inteligente, habituada ao sofrimento. Nicole se caracteriza como o modelo de mulher que é o sonho de todo homem; vive um relacionamento com Júlio Alcântara, homem rico, justo e apaixonado, capaz de fazer grandes sacrifícios para proteger sua família. Júlio representa o ideal de homem das mulheres. O relacionamento entre Júlio e Nicole é o modelo, ou pelo menos, o sonho de todo casal. Na verdade, entre os dois há uma compatibilidade que pode ser caracterizada como transcendental, uma espécie de empatia espiritual que proporciona uma unidade na multiplicidade, isto é, mesmo sendo dois, a empatia é tão profunda que os dois conseguem ser um, sem deixar de ser dois.
A própria estrutura física do livro permite que o leitor teça reflexões, senão vejamos: a capa do livro é propositalmente vermelha, aludindo ao diário de Heloísa, que é descrito como caderno vermelho. O livro que Nicole supostamente escreve, pelas mãos de Maria Montillarez, tem traços de relato, réplica, tréplica... de modo que todos os envolvidos estão esquematizadamente em seus postos para a hora X de entrarem em cena.
Sou Filósofo, mas ouso dizer que li O meu caderno não mente — O diário de Heloísa classificando-o como romance, cujos personagens têm seu núcleo em Nicole e Júlio. Heloísa é coadjuvante; infeliz cacto que ousou nascer no meio de um campo de rosas. É previsto seu destino, e o leitor vai segurando o fôlego, quase com medo de qual seja ele.
Ainda sobre a estrutura do livro, pode-se dizer que a história se inicia no capítulo III, NICOLE — PARTE 21, e, por “maestria poética” (não achei outro modo de dizer), Maria Montillarez, perdão, Nicole, faz o leitor retomar a LÉNER — PARTE 1, para emendar e dar lógica ao cerne da trama. O leitor de obras anteriores desta autora já deve estar habituado ao estilo inversivo de Maria Montillarez. Estão aí Colar de Pérolas, O Pingente, Colar de Pérolas & O Pingente, e Os amigos de sempre provando que esse estilo Maria Montillarez, ao invés de confundir, clareia e diverte. A contemporaneidade literária suplicava pelo novo — ei-lo!
O livro é uma leitura interessante, pois em um momento de aparente crise do amor, ou seja, em um momento em que as pessoas se entregam ao amor com reservas e desconfianças, o livro procura demonstrar o verdadeiro amor, ou pelo menos o amor que as pessoas esperam receber umas das outras. Todos os personagens envolvidos diretamente na trama amorosa amam intensamente; são personagens que raciocinam pelo coração, todos eles vivem o mais alto nível do amor e da realidade altruísta.
Meu caderno não mente — O diário de Heloísa é um livro para ser lido com a inteligência emocional, buscando viver um sonho que na realidade ou na vida real é a motivação que alimenta as relações de todos os verdadeiros mortais.
Vivamos a realidade, envolvidos pelo sonho-realidade da fantasia. A dor mortal de todo ser humano não é sonhar sonhos impossíveis, mas não achar as coisas impossíveis para sonhar.


(Ernandes Reis Marinho é Diretor Presidente do ICEIB; Vice-presidente da Academia de Letras de Samambaia/ASLAS; Professor e Doutor em Filosofia; Pró-reitor da Estácio/Facitec — DF).


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