Prefácio do livro Sob o olhar do mal, de Maria Montillarez:
A escritora Maria Montillarez não se cansa de
surpreender seus leitores pela maestria com que navega por várias áreas e
questões complexas de nossa sociedade, as quais tornam os seus romances tão
ricos e inovadores.
Apesar do respeito e admiração por Maria
Montillarez, minha agenda desfavorecia a que
eu pudesse prefaciar o livro
Sob o olhar do mal. Eu teria de recusar
o privilégio, embora olhasse para os originais que eu deveria ler para
prefaciar, e uma profunda reverência ao trabalho dela me impelisse a lê-lo,
pois, sempre que a leio, saio da experiência modificado.
Por isso, caro leitor, não pretendo enganá-lo
acerca do conteúdo deste livro, e irei aconselhá-lo a não ler Sob o olhar do mal, se sua intenção não for a de se tornar mais um leitor preso às
teias de outro intenso romance urdido por Maria Montillarez! Atesto que fui
pego pela trama de Sob o olhar do mal,
quando disse a mim mesmo: Lerei a primeira página e direi à Maria Montillarez que
lamento, mas o ofício me impediu de prefaciá-lo etc., etc., e tal.
Tão logo iniciei a leitura, telefonei a ela, já
um tanto comprometido, contagiado... Antes de eu dizer qualquer negativa, ela
me garantiu: “Você tem todo tempo do mundo pra escrever esse prefácio! Não se
apresse!” Me desarmou. Mas eu disse a mim mesmo que iria ser capaz de resistir ao livro. Encostei-o. Já
estava virando ponto de honra.
Tive uns reveses na vida, Maria Montillarez
apareceu para os pesares, como boa companheira de Academia, e, apesar do
sentimento nítido, vi nos olhos dela aquele compromisso do prefácio. Bati o pé
em silêncio. Não ia ter prefácio!
Mas o que era aquilo? Afinal ela nem tocara no
assunto? O que havia entre mim e os livros dela? Oras, não tinha a ver com
Maria, era com os livros dela que eu me embatia. Ia ganhando tempo.
Certo dia, abri um e-mail dela que tratava de assuntos
relativos à Academia de Letras da qual somos confrades. De algum modo li letras
pululando na tela: “Não estou cobrando nada, mas escreva se lembra do prefácio?”
Comecei a pensar que o livro tinha poderes e me
espionava. Contudo, era minha consciência de leitor rendido, e não pude parar
naquela primeira página. O conteúdo do romance foi me instigando a seguir em
frente, página após página, para saber o desenrolar da história. Em vários momentos
obriguei-me a refletir sobre alguns padrões impregnados em nossa sociedade,
graças a abordagem de temas que ainda são tabus para muitos e geram
preconceito, discriminação e até exclusão social: pode-se, ás vezes pensar que
eles estão errados, enquanto tabus, sendo tão somente preconceitos.
O objetivo de alguns dos personagens principais
é viver uma vida plena, buscando saciar suas paixões, mesmo que elas saiam do
senso comum. Isso corrobora com a singularidade da obra, essa que marca profundamente
e nos torna leitor-presa neste interessante enredo.
Assim, rendido, disse a mim mesmo que faria
aquela leitura em... talvez, uma semana! Em um milênio, escreveria o prefácio,
oras! Sou filósofo, e apreciar literatura me dá um pouco nos nervos!
Qual foi minha grata surpresa?
A leitura que seria de uma semana (ou mais), eu
a fiz em um dia! Pela razão simples e única de que devorei o livro! — E o livro me devorou!
Maria Montillarez é reputada como autora de
romances longos, com muitas páginas. No entanto, Sob o olhar do mal é um livro curto, mas de conteúdo intenso e
instigante. Portanto, para quem gosta de ler um excelente livro, recomendo que
viva sua experiência Sob o olhar do mal.
Rogério Corrêa
Filósofo e escritor mineiro.
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