23 de maio de 2016

COMO EDITAR SEU LIVRO — A ARTE DE ESCREVER, de Maria Montillarez

 COMO EDITAR SEU LIVRO — A ARTE DE ESCREVER, de Maria Montillarez

Descrição do livro: Quando se pensa em escrever um livro, é importante considerar também o
que não se deve escrever nesse livro.
Por essa razão, Maria Montillarez fez um apanhado de valiosas indicações de COMO EDITAR SEU LIVRO — A ARTE DE ESCREVER, especialmente recomendadas para quem desconheça as normas básicas de edição, escrita e produção de um livro, nos formatos mais usados atualmente: impresso, sob demanda e E-book (este em diversos formatos, como PDF, E-pub etc.), além de sugerir meios de distribuição. Esse livro não é um guia, é um compilado de instruções de quem viveu e vive o processo em seus próprios trabalhos; nele, o novo escritor é direcionado a começar a organizar seus textos e editá-los com mais segurança e profissionalismo.


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20 de maio de 2016

EU PLANTEI A ARMADILHA? — Opção sofisticada pela penúria —, da escritora Maria Montillarez

Trecho do livro EU PLANTEI A ARMADILHA? — Opção sofisticada pela penúria —, da escritora Maria Montillarez:



Fazia frio. A fome também era outro incômodo, e com ela, a sede. Estes são problemas comuns a muitos seres humanos, embora variem em alguns aspectos. Pode até
nalguns casos a fome, o frio e a sede serem de ordem intelectual, sentimental, mas, ninguém está a salvo de sentir um ou todos esses sentimentos juntos. A grandeza e a pequenez de ser gente é que distingue um sofredor do outro.
Era isso que Aryana pensava, enquanto em vão apertava os dentes para que se atritassem menos. Durante o dia fora quente como podia se supor que seria o próprio inferno. Havia se encolhido enquanto coisas explodiam, estralavam. A temperatura oscilara muito, porém, o calor foi predominante a maior parte do tempo. Ali era silencioso. Aquela porta de aço, acima da escada de numerosos degraus, e aquelas paredes revestidas de concreto, certamente também possuíam mais algum revestimento, evitando a chegada de sons ali.
Ela se encolhera em um descanso. Tivera tempo de explorar o local antes de o fogo lamber a casa em cima, mas não fizera, agora se perguntava por que deixara se dominar pela raiva e improvisara, afinal, tinha até o dia seguinte para sair da casa. Teria dado tempo explorar o que havia ali embaixo, trazer algumas coisas básicas para sobrevivência, se precisasse, pois não fazia ideia de quanto tempo ficaria ali.
Agora começava a fazer frio, e se intensificara muito, os bombeiros resfriaram o local acima dela, e Aryana praguejava:
— Será que esses filhos-da-puta jogaram gelo ali em cima? Será que gastaram toda a porra do hidrogênio da cidade no incêndio da casa dos sete anões?
Temeu, por algum tempo, se aprofundar na escuridão do local para procurar algum agasalho. Nem sabia exatamente o que temia. Seria a morte? Nunca havia temido a morte, mas naqueles instantes sentira algo que se parecia com temor, embora se ausentasse de um sentir consciente; era mais no âmbito do instinto, esse que é ativado em qualquer ser vivo ante a percepção de alguma ameaça à própria vida.
Começava a se perguntar se aquele era apenas um momento de miséria em sua vida, em que tudo viera dando errado, e ela acabara naquele lugar escuro, ou se aquilo se tornaria permanente. Então, ao pensar na permanência da situação, achou a morte interessante, e a espécie de medo cessou. Levou a mão à barriga e pensou no bebê que carregava. Admitiu para si mesma ser a primeira vez em que pensava nele como ele mesmo, não como uma moeda de troca para chantagear um homem alvo. Primeiro usara-o para tentar “adoçar” Graco, depois, para manobrar Magno.  Tentara mesmo manobrar Magno, ou apenas fora se deixando levar pelas circunstâncias?
— Eu me deixei levar — falou para a barriga. — Fui acreditando devagarzinho que eu e Graco poderíamos ter algum... presente ou futuro. Mas pra que fui pensar em futuro com aquele otário? Ah, o que estou fazendo, falando com um feto? Droga! Preciso mesmo é me mover, fazer alguma coisa. Não posso ficar aqui me lamentando pra um feto que nem vai nascer. Você não vai nascer, ouviu, embrião?! — gritou. — Claro que não ouviu. Você nem tem ouvidos. Não é gente nem nada ainda — sorriu e se levantou, tentou apalpar as paredes. Seguiu tateando corredor afora, por vários metros. Sua mão tocou algo e, como ao tato se parecesse um interruptor de energia, ela o acionou. O local se iluminou, e ela avistou uma porta no fim de um corredor. Estava destrancada, mas era uma porta tipo corta-incêndio, mas muito bonita. Ela a empurrou, e luzes se acenderam acionadas por sensores de calor. Onde estava escuro e ela entrava, luzes se acendiam, bem como as outras se apagavam quando ela saía do ambiente. Aryana abriu um largo sorriso de satisfação e espanto ao ver a imensa sala à sua frente, e outros cômodos enormes e lindamente decorados.
Havia móveis cobertos, e foi descobrindo-os. Explorando o local, entendeu que se tratava de uma casa luxuosa, no subsolo da casinha de Magno Campestrini, que ardera o dia inteiro.
Estava impressionada com o luxo. Mas se era de Magno Campestrini, o homem mais rico da cidade, o espantoso era ele vir morando naquela casinha que ela ateara fogo. Porém, uma pergunta lhe veio à mente: por que aquela casa subterrânea existia? Por que Magno mantinha aquele lugar? E a história de haver vendido a casa, como se encaixava naquele investimento subterrâneo e vice-versa? Que planos Magno teria para aquele lugar imenso e lindo?
Essas perguntas teriam de esperar as respostas para outro momento, pois o cansaço a estava vencendo, além da fome, frio e sede. O cansaço a tomava mais e mais. Encontrou a cozinha. Tudo perfeitamente habitável, como se esperasse alguém. Efetivamente alguém fazia a manutenção daquele lugar. Como não percebera nada? A negra devia saber de tudo. Por essas e outras era que odiava negros. Não podia confiar neles. Mas podia confiar em alguém no mundo, além de si mesma?
Bebeu água, abriu uma caixa de leite, encheu um copo e bebeu também, como se estivesse há anos sem comer. Seus pensamentos, porém, continuavam confusos. Era inteligente, mas aquele dia fora muito para um corpo carregando outro dentro. Enfiou um pacote de milho pra pipoca no micro-ondas. Comeu-as com voracidade. Nada estava fazendo sentido. Talvez precisasse dormir um pouco.
Cambaleou até um quarto e desabou sobre uma cama. Dormiu.


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18 de maio de 2016

Meu caderno não mente — O diário de Heloísa, da escritora Maria Montillarez

Prefácio do livro: Meu caderno não mente - O diário de Heloísa, da escritora Maria Montillarez

Meu caderno não mente — O diário de Heloísa é uma das recentes publicações destinadas a se tornar um clássico de nossa literatura. Mesmo que a afirmação possa parecer pretensiosa, não penso
em outra afirmação para expressar a minha visão de futuro da obra. O livro não foi apenas escrito, foi pensado e repensado nos seus mínimos detalhes. Cada parte da história tem profunda e cautelosa racionalidade, que é característica das obras da autora, uma característica que se aprimora dentro de um elegante estilo romanesco.
A história é fruto de um diário imaginário escrito por três mãos: a de Heloísa, a de Léner e a de Nicole. A estrutura da obra respeita a ideia de um diário. A riqueza dos detalhes, as longas descrições, a forma íntima das narrativas, os complementos posteriores das narrativas, e a sensação que temos na leitura de uma história que não se desenvolve, mostram a estrutura de um diário retocado, no qual se tenta justificar as atitudes de um drama amoroso vivido por cinco personagens: Júlio Alcântara, Heloísa, Geraldo, Léner e Nicole. Os personagens, apesar de terem seus sentimentos bem direcionados, têm ao longo da trama um entrelaçamento dos seus sentimentos, resultando em um complexo relacionamento amoroso.
No contato com a história, o leitor não deve desprezar as minúcias das narrativas, pois são momentos fortes da obra e instrumentos usados pela autora para nos fornecer informações precisas sobre os diálogos, às vezes truncados, dos vários personagens que compõem o enredo da trama. É interessante observar que Heloísa sempre se refere à Nicole em propositais substantivos diminutivos, cujos sufixos são usados de jeito a revelar seu desprezo por Nicole (-inha, -zinha...), por exemplo, quando ela classifica Nicole de batutazinha do demo, tudo para convencer, talvez, não somente a Léner, da insignificância que Nicole lhe parece ter, mas também aos leitores dele, de que a condição de Nicole no mundo deveria estar sujeita a mais baixa das posições, e uma das grandes frustrações de Heloísa é justamente a de ver Nicole, hierarquicamente acima dela, como sua patroa a “dona patroinha”.
A criatividade de construção dos personagens é uma das grandes particularidades da obra. O leitor precisa mergulhar no ideário da autora para perceber o direcionamento que ela quer dar à sua trama. Na obra, nenhum personagem aparece por acaso; de uma forma ou de outra todos os personagens contribuem para a coluna mestra da obra, uma grande prova da visão geral e particular que a autora tem do seu trabalho.
Heloísa é uma mulher comum, um coração aberto que se deixou fisgar por um amor platônico e proibido. O descuido de um distraído coração coloca Heloísa como a principal preocupação do enredo. Heloísa não é uma pessoa má, é simplesmente uma mulher apaixonada, e como todo amor não correspondido, perde o direcionamento de ação, realizando infinitas ações que a colocam como vilã de uma história de amor profundo.
O enredo tem como protagonista a personagem Nicole, forte, marcante, inteligente, habituada ao sofrimento. Nicole se caracteriza como o modelo de mulher que é o sonho de todo homem; vive um relacionamento com Júlio Alcântara, homem rico, justo e apaixonado, capaz de fazer grandes sacrifícios para proteger sua família. Júlio representa o ideal de homem das mulheres. O relacionamento entre Júlio e Nicole é o modelo, ou pelo menos, o sonho de todo casal. Na verdade, entre os dois há uma compatibilidade que pode ser caracterizada como transcendental, uma espécie de empatia espiritual que proporciona uma unidade na multiplicidade, isto é, mesmo sendo dois, a empatia é tão profunda que os dois conseguem ser um, sem deixar de ser dois.
A própria estrutura física do livro permite que o leitor teça reflexões, senão vejamos: a capa do livro é propositalmente vermelha, aludindo ao diário de Heloísa, que é descrito como caderno vermelho. O livro que Nicole supostamente escreve, pelas mãos de Maria Montillarez, tem traços de relato, réplica, tréplica... de modo que todos os envolvidos estão esquematizadamente em seus postos para a hora X de entrarem em cena.
Sou Filósofo, mas ouso dizer que li O meu caderno não mente — O diário de Heloísa classificando-o como romance, cujos personagens têm seu núcleo em Nicole e Júlio. Heloísa é coadjuvante; infeliz cacto que ousou nascer no meio de um campo de rosas. É previsto seu destino, e o leitor vai segurando o fôlego, quase com medo de qual seja ele.
Ainda sobre a estrutura do livro, pode-se dizer que a história se inicia no capítulo III, NICOLE — PARTE 21, e, por “maestria poética” (não achei outro modo de dizer), Maria Montillarez, perdão, Nicole, faz o leitor retomar a LÉNER — PARTE 1, para emendar e dar lógica ao cerne da trama. O leitor de obras anteriores desta autora já deve estar habituado ao estilo inversivo de Maria Montillarez. Estão aí Colar de Pérolas, O Pingente, Colar de Pérolas & O Pingente, e Os amigos de sempre provando que esse estilo Maria Montillarez, ao invés de confundir, clareia e diverte. A contemporaneidade literária suplicava pelo novo — ei-lo!
O livro é uma leitura interessante, pois em um momento de aparente crise do amor, ou seja, em um momento em que as pessoas se entregam ao amor com reservas e desconfianças, o livro procura demonstrar o verdadeiro amor, ou pelo menos o amor que as pessoas esperam receber umas das outras. Todos os personagens envolvidos diretamente na trama amorosa amam intensamente; são personagens que raciocinam pelo coração, todos eles vivem o mais alto nível do amor e da realidade altruísta.
Meu caderno não mente — O diário de Heloísa é um livro para ser lido com a inteligência emocional, buscando viver um sonho que na realidade ou na vida real é a motivação que alimenta as relações de todos os verdadeiros mortais.
Vivamos a realidade, envolvidos pelo sonho-realidade da fantasia. A dor mortal de todo ser humano não é sonhar sonhos impossíveis, mas não achar as coisas impossíveis para sonhar.


(Ernandes Reis Marinho é Diretor Presidente do ICEIB; Vice-presidente da Academia de Letras de Samambaia/ASLAS; Professor e Doutor em Filosofia; Pró-reitor da Estácio/Facitec — DF).


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16 de maio de 2016

O raio não O partiu, da escritora Maria Montillarez

Trecho do livro "O raio não O partiu", da escritora Maria Montillarez:



"Dileto amigo Irving,

 Quisera eu ter podido escrever-lhe em momentos de fortuna. Firmamos que assim não se desse.
No exercício de escrever-lhe estes caracteres, empenho toda força que me resta.
Portanto, você sabe, com os olhos sobre estas palavras, que meu infortúnio é dado firme. Suplico-lhe que me venha consolar. A você atribuo o ofício e permito que o tente.
Antigos oponentes seus foram-se definitivamente. Não haverá reações desfavoráveis a sua estadia aqui. Sustenho-me na esperança d’este meu clamor alcançá-lo com a mesma urgência que espero valer-me sua presença.
Não pertenço a este lugar, se ele não o contém, e não pertenço a mais ninguém, além de você.

Dély Alencar."

 Irving soluçou, contorceu-se. Doeu-se ali por mais uns minutos, absoluto senhor de sua solidão; igualmente senhor absoluto do recrudescente, inclemente e silencioso revés de sua sorte.
A angústia ia afunilando-lhe mais e mais a garganta, tirando-lhe o fôlego. Aquela carta que fora tão ansiada, dia após dia, agora lhe parecia haver chegado demasiado tarde. Com sacrifício e extenso sofrimento, ele suspirou:
— Oh Meu Jardim, não me escreveu tarde demais? Querida, já não lhe servirei de nada! De nada!
Com dificuldade e apoiando-se a uma bengala, andou para a rua; cruzou-a adiante e sentou-se à mesa do Café Deby.
Vestida de garçonete, a proprietária do estabelecimento olhou para ele e veio em sua direção.
— Está melhor hoje, hem? Animou-se a sair de seu casulo?
— Estou bem, Deby. Não há nada de errado comigo.
— Lindo! O otimismo é positivo, mesmo diante do inegável. No entanto, essa mania que você tem de minimizar seus desconfortos, embora nobre, é o maior erro a lhe recair à cabeça. Eu, e as pessoas preocupadas com seu bem-estar, dispensamos sua parte meramente otimista; preferimos aquela real: se está bem, está bem; se está mal, está mal. Baseados nessa verdade, é que aumentamos ou diminuímos as atenções com você. De resto, permaneça lutando. É a parte que lhe toca — respirou, antes de perguntar: — Ving, que olhos de lástima são esses?
— Recebi isto — estendeu à Deby o envelope. Ela correu os olhos sobre aquelas linhas.
— Caligrafia magnífica — observou —, parece letra de professora, assim, cursiva, bem desenhadinha... Isto veio mesmo dela? São palavras tocantes! Mas, tem certeza de que é a letra dela, e não algum tipo de armadilha? É letra de Dély, a mesma mocinha da foto? A sua, a nossa Dély?
Deby buscava certificar-se em quase incrédulas, alegria e esperança.
— Aquela foto tem trinta anos. Certamente Dély não é mais "a mocinha" da foto.
— Ora, claro que não. Eu quis apenas me certificar de não existir dúvida de que esta letra haja sido realmente produzida por Dély.
 — Entendi, querida, entendi. É a letra dela sim; da Dély que um dia foi minha, e a quem pertence, ainda hoje e eternamente, o meu amor e minha vida. Mesmo esta vida medíocre que levo e que namora a ideia de me deixar, sob o acerbado protesto de ardorosos fãs meus.
— Homem modesto! — Deby chasqueou num breve sorriso, e observando-o cabisbaixo, impostou segurança à voz, acresceu algum otimismo a ela e exclamou: — Você esperou tanto por esse sinal de vida dela! Oh, finalmente o sinal chegou! E, olha, você sabe que não esperou sozinho. Todos nós o acompanhamos nessa longuíssima vigília. Deveria estar exultante, não?
— E estou — respondeu sem entusiasmo nenhum.
— Ving, sinceramente, eu fiquei mais alegre quando fiz um canal neste dente aqui, do que você, ante essa fabulosa restauração de suas esperanças em rever sua amada e idolatrada Dély, que é no que devem constituir esses dizeres da missiva! Está assim, por que ela não sabe de seu estado, não é querido?
— Como ela saberia, se não nos comunicamos?
— O que você fará?
— Vou voltar ao meu "casulo" e chorar mais; depois, corto os pulsos e deixo a morte encerrar o assunto. Tenho saldo zero de forças pra reagir a isto Deby — sacudiu o envelope, irritado, deixando transparecer a indignação que aquela situação eclodia dele —, e estas palavras aqui contidas consumiram a raspa da energia havida no recipiente de minha existência — mudou o semblante de irritação em tristeza e resignação. — O ressurgimento das esperanças, pouco pode fazer contra tamanha debilidade alojada no caco de homem que sobrou de mim.
— Existe verdade refinada nessas tuas palavras aí, exceto pelo adjetivo "caco". Não se autodenomine caco, faz favor. Apesar d’eu saber que tua realidade é muito pior do que a descreve e dá a conhecer, ainda assim, Ving, eu não duvidaria se acontecesse um milagre. Porém, independente de milagre, essas linhas... — Deby apontou o envelope que ele segurava. —... elas dizem muito mais do que eu li, e você sabe o que é que dizem, não sabe?
— Saber claramente, eu não sei; mas, tenho grande ligação com Dély, daí que posso sentir. Sim, interpreto o que há nas entrelinhas: algo aconteceu, tornando Dély sozinha e deprimida. E me pergunto o que pode ter acontecido. Se o energúmeno, seu Paulo, acaso houver morrido, devem ter restado à Dély, os filhos.
— Aguenta uma viagem tão longa, Ving?
— Essa hipótese, Flor-de-Lótus, se ajusta ao suicídio!
— Verdade, seu estado é bem delicado... Bem, escreva de volta, solicitando que ela venha, então!
— Se houvesse a possibilidade, ela decerto já teria vindo. Não enviaria correspondência, como fez.
— Vai ver que ela pensou em você estar comprometido com outra mulher, e, vir de supetão, poderia te pôr em dificuldades — pausou antes de perguntar: — Sua febre persiste, Ving?
— Sim.
— Todos notam seu casaco de esquimó. Está fazendo 40°C lá fora. Tem tomado seus medicamentos e se alimentado?
— Sim.
— Zândika não trouxe novidades, não é?
— Nenhuma, por enquanto.
— Hei, Deby! Você virou atendente exclusiva do pinguim aí? — gritou um homem corpulento, sentado à outra mesa, junto à janela. — E pelo amor de Deus, aumente a potência desse ar condicionado! Ninguém aguenta tanto calor! Estou derretendo!
Deby virou-se para uma funcionária:
— Atenda o cavalheiro ali, por favor!
E sentou-se à mesa com Irving. Deby, em seus quase cinquenta anos, era branca, de olhos bem azuis; bastante alta e esguia. No rosto, as feições eram duras e não expunha, ainda, rugas em quantidade que lhe denunciassem a idade.
— Aquele homem é dos poucos frequentadores deste café, que não conhece você, Ving.
— Ninguém é unanimidade, Flor-de-Lótus.
— Não zombe. Embora o assédio sobre você haja diminuído, precisa ser cauteloso; não pode sair por aí, nesse estado dramático, inda por cima sozinho.
— Não estou sozinho — escarneceu risonho. Veja esta companheira que Pietro me deu!
— Ving, é uma bela bengala, mas, convenhamos!...
— Tem razão, tem razão. Aconteceu que esta carta me deu tanta aflição que eu quis correr. Se correr era impossível, pelo menos saí a caminhar até aqui.
— O que Zândika te disse, dessa vez?
— Você ainda não a viu desde que ela voltou do congresso de medicina?


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