21 de outubro de 2016

6 de outubro de 2016

Texto do livro Histórias de carreiros, de Rogério Corrêa

Texto do livro "Histórias de carreiros", de Rogério Corrêa

Quase foram esmagados pelo carro de boi

Ari Gonçalves Roça, 75 anos, em outro causo, lembrou que para fazer todos os serviços da fazenda, sempre possuíram pelo menos dezesseis bois de mais de 20 arrobas
cada um deles.
Com essa quantidade de bois, era possível fazer revezamento entre os animais na moagem e no carrear.
Ele contou que houve uma época, quando era bem novo que nem calçava botina. Se recorda ter calçado a primeira botina com 12 anos de idade, e elas foram um presente dado por um de seus irmãos mais velhos. No início não gostou daquilo, porque apertava seus pés; era desconfortável purdemais!
Em uma das viagens que faziam semanalmente de carro de boi, indo da fazenda até o Rio Paranaíba, transportando rapaduras, ele acompanhou o pai dele.
Conforme o horário que saíssem, tinham de dormir no caminho. Dessa vez, especificamente, aconteceu de eles pararem o carro de boi em um pasto, debaixo de uma árvore; soltaram os bois e cavalos, cortaram capim para servir de colchão e de travesseiro e buscaram lenha para preparar o alimento.  Eles levavam pouca coisa, para não ocupar muito espaço: somente o de comer, um lençol e cobertas de lã. Achavam muito bom dormir debaixo dos carros de boi. Eram camas improvisadas, porém, macias, pois usavam o capim, jogavam o cochinil para arreio em cima do capim, depois o lençol e dormiam tranquilamente.
Naquela noite adormeceram cedo. Ao acordarem, se depararam com o eixo do carro de boi quase encostado em seus corpos. Saíram dali com certa dificuldade. Aquele susto que quase lhes tirou a vida, pois a carga era muito pesada e por pouco não foram amassados durante a noite.
Quando o pai dele analisou mais friamente o terreno, entendeu o motivo do carro de boi ter atolado tanto, e descobriu que naquele local já foi um formigueiro, e, por isso, a terra estava mais fofa.
Depois de se recomporem do assombro, tomaram café buscaram os animais, retiraram o carro do atoleiro e seguiram viagem, pensando no ocorrido.

Ficou a saudade. Para extingui-la um pouco, os filhos dele fazem questão de leva-lo às festas de carros de boi para ele matar a grande saudade. 

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Os amigos de sempre, de Maria Montillarez

O livro Os amigos de sempre, da escritora Maria Montillarez é o tipo de romance que desperta ou amor ou ódio visceral. Por
isso, a autora Maria Montillarez escreveu o Prólogo pro-réu: “ [...] Escrevi esta [...] conforme as impressões que o real me causou. Num momento eu estava perdida entre o real e o imaginário, noutro embebida daquele viço vicioso de ser homem jamanta, pois o macho brasileiro é especial em seu modo de ver o mundo; ele pode ir de um extremo ao outro, sem mais delongas ou explicações. Já ouvi que a culpa é do clima tropical. Nada mais inverossímil do que isso. Nada mais cômodo do que justificar a história de opressões contra a mulher atribuindo a culpa ao clima. Se assim o fosse, o que dizer dos países gélidos com seus machistas seculares? De todo modo, o leitor é dono das interpretações que fizer daquilo que ler. E, citando Gonçalves de Magalhães: “... não se compõe uma orquestra só com sons doces e flautados; cada paixão requer sua linguagem própria, seus sons imitativos, e períodos explicativos” (Suspiros Poéticos e Saudades, 1836). Magalhães se antepunha à crítica e disse mais: “Eis as necessárias explicações para aqueles que lêem[sic] de boa fé, e se aprazem de colher uma pérola no meio das ondas; para aqueles, porém, que com olhos de prisma tudo decompõem, e como as serpentes sabem converter veneno até o néctar das flores, tudo é perdido; o que poderemos nós dizer-lhes?... Eis uma pedra onde afiem suas presas; mais uma taça onde saciem sua febre de escárnio.” (idem, ibidem).

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Sob o olhar do mal, de Maria Montillarez

Prefácio do livro Sob o olhar do mal, de Maria Montillarez:
A escritora Maria Montillarez não se cansa de surpreender seus leitores pela maestria com que navega por várias áreas e questões complexas de nossa sociedade, as quais tornam os seus romances tão ricos e inovadores.
Apesar do respeito e admiração por Maria Montillarez, minha agenda desfavorecia a que
eu pudesse prefaciar o livro Sob o olhar do mal. Eu teria de recusar o privilégio, embora olhasse para os originais que eu deveria ler para prefaciar, e uma profunda reverência ao trabalho dela me impelisse a lê-lo, pois, sempre que a leio, saio da experiência modificado.
Por isso, caro leitor, não pretendo enganá-lo acerca do conteúdo deste livro, e irei aconselhá-lo a não ler Sob o olhar do mal, se sua intenção não for a de se tornar mais um leitor preso às teias de outro intenso romance urdido por Maria Montillarez! Atesto que fui pego pela trama de Sob o olhar do mal, quando disse a mim mesmo: Lerei a primeira página e direi à Maria Montillarez que lamento, mas o ofício me impediu de prefaciá-lo etc., etc., e tal.
Tão logo iniciei a leitura, telefonei a ela, já um tanto comprometido, contagiado... Antes de eu dizer qualquer negativa, ela me garantiu: “Você tem todo tempo do mundo pra escrever esse prefácio! Não se apresse!” Me desarmou. Mas eu disse a mim mesmo que iria ser capaz de resistir ao livro. Encostei-o. Já estava virando ponto de honra.
Tive uns reveses na vida, Maria Montillarez apareceu para os pesares, como boa companheira de Academia, e, apesar do sentimento nítido, vi nos olhos dela aquele compromisso do prefácio. Bati o pé em silêncio. Não ia ter prefácio!
Mas o que era aquilo? Afinal ela nem tocara no assunto? O que havia entre mim e os livros dela? Oras, não tinha a ver com Maria, era com os livros dela que eu me embatia. Ia ganhando tempo.
Certo dia, abri um e-mail dela que tratava de assuntos relativos à Academia de Letras da qual somos confrades. De algum modo li letras pululando na tela: “Não estou cobrando nada, mas escreva se lembra do prefácio?”
Comecei a pensar que o livro tinha poderes e me espionava. Contudo, era minha consciência de leitor rendido, e não pude parar naquela primeira página. O conteúdo do romance foi me instigando a seguir em frente, página após página, para saber o desenrolar da história. Em vários momentos obriguei-me a refletir sobre alguns padrões impregnados em nossa sociedade, graças a abordagem de temas que ainda são tabus para muitos e geram preconceito, discriminação e até exclusão social: pode-se, ás vezes pensar que eles estão errados, enquanto tabus, sendo tão somente preconceitos.
O objetivo de alguns dos personagens principais é viver uma vida plena, buscando saciar suas paixões, mesmo que elas saiam do senso comum. Isso corrobora com a singularidade da obra, essa que marca profundamente e nos torna leitor-presa neste interessante enredo.
Assim, rendido, disse a mim mesmo que faria aquela leitura em... talvez, uma semana! Em um milênio, escreveria o prefácio, oras! Sou filósofo, e apreciar literatura me dá um pouco nos nervos!
Qual foi minha grata surpresa?
A leitura que seria de uma semana (ou mais), eu a fiz em um dia! Pela razão simples e única de que devorei o livro! — E o livro me devorou!
Maria Montillarez é reputada como autora de romances longos, com muitas páginas. No entanto, Sob o olhar do mal é um livro curto, mas de conteúdo intenso e instigante. Portanto, para quem gosta de ler um excelente livro, recomendo que viva sua experiência Sob o olhar do mal.

Rogério Corrêa

Filósofo e escritor mineiro.

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